Hugo Silva – Especialista em Mediação Imobiliária

Nada como começar um simples artigo de opinião, com uma pequena bicada sobre política. Seja política de direita, seja política de esquerda, quem governa quer sempre levar em frente os seus ideais, mas há sempre uma certa tendência para desejar matar as iniciativas que o anterior governo tomou.

Eu direi que o fim dos golden de visa é mais uma facada nas políticas que tiveram de ser implementadas quando a troika chegou a Portugal. Não serei eu de certeza a dizer se foram, são ou continuam a ser decisões corretas ou incorretas. Mas a verdade dos factos, e para piorar o cenário, temos uma pandemia, e precisamos de ter medidas de criar liquidez.

Em primeiro lugar, dizer que os Golden Visa desde 2012 até julho de 2020 contribuíram para o mercado imobiliário com os seguintes números:

– Deste Outubro de 2012, já foram investidos €5.431.263.516,27 euros no programa Golden Visa Portugal.

– Do total, €4.908.676.856,49 foram investidos no mercado imobiliário.

– 8.487 investidores, ou seja, 90% dos Golden Visa Portugal optaram pelo investimento imobiliário.

* dados globais citizens solutions

Falamos de um valor perto de 5 mil milhões de euros, muito mais de 8 mil imóveis vendidos, visto que, os 8.487 investidores não compraram apenas um imóvel sendo que em alguns casos compraram 3 ou 4 imóveis para fazer o valor mínimo pretendido. Também destes dados se percebe que a medida “Golden visa” apenas funcionou para o imobiliário pois, apesar de existirem outras soluções para os famosos vistos, 90% foi através do imobiliário.

Num espaço de 8 anos, mais de 8.500 imóveis transacionados, e quase 5 mil milhões investidos diretamente no mercado, será de questionar também que não se contabilizam os indiretos, porque muitos destes investidores continuaram a investir em Portugal.

Em ponto de crítica, diria dura, que quando mais precisamos de liquidez ou quando se aproxima uma crise que não sabemos para onde nos leva, mata-se mais uma medida de liquidez que, a meu ver, pode não ser um impacto louco, mas que trouxe muita liquidez, e fez o mercado movimentar muitos milhões sem dúvidas.

Quanto terá isto gerado em impostos vindo de fora para dentro? Será que os nossos políticos fizeram essas contas, ou o que interessa é terminar com algo que os outros fizeram. Como somos servos de uma europa burguesa eles ordenam e nós abanamos a cauda?

Feitas estas considerações, e considerando que o turismo está mais parado que o mar morto e que os investidores Portugueses não têm o poder económico de chineses, americanos, brasileiros de classe alta, o fim dos golden visa, nas grandes cidades, vai ser mais um motivo para existirem ajustamento de valores e, por sua vez, menos liquidez a um mercado que como outros tantos vai ter de se reinventar.

Outro argumento utilizado é : Mas podem haver golden visa em outros locais do Pais, zonas do interior, ou Alentejo etc. Portanto nós portugueses não somos capazes de fazer uma descentralização e criar condições nesses locais e estamos à espera que sejam os chineses a fazê-lo?

O fim anunciado dos golden visa vai ter um impacto muito negativo no mercado imobiliário, não só pela liquidez ou pelo número de operações, mas também, pela falta de confiança, pela dúvida e por medo de outros investidores que também querem ou queriam investir no nosso mercado, e agora vão provavelmente pensar algumas vezes antes de o fazer.

Se na minha opinião os golden visa são o fator mais importante no mercado imobiliário em Portugal? Claro que não, nem por perto, mas é apenas mais uma medida que ajudava um mercado dinâmico. Como todos percebemos o mercado é a soma de muitas partes e neste momento a soma das partes está a diminuir e, se nada for feito, e não falo apenas nos golden visa, falo no mercado em geral.

Em tom de ironia, acho que devíamos começar a pensar em não aceitar mais turistas em Portugal, afinal de contas é bastante aborrecido ir a Lisboa ou ao Porto e ouvir falar inglês, ou alemão ou francês. Aqueles estrangeiros todos no algarve a fazer barulho também não são lá grande vizinhança.

Assim matávamos o mercado de uma vez só em vez de o ir matando aos bocadinhos!