Hugo Silva – Especialista em Mediação Imobiliária

O Covid-19 entrou nas nossas vidas profissionais e pessoais de uma forma quase irreversível onde, no meu ponto de vista, muitos dos nossos hábitos e vivências têm de vir a ser alterados, transformados ou, eventualmente, terminar. No mercado imobiliário, estamos no início de uma mudança sem ainda sabermos onde nos vai levar ou o que teremos de fazer para contornar os problemas que vão aparecer no futuro próximo.

Contudo, para todos aqueles que pretendem comprar ou vender um imóvel, há com certeza algumas práticas que devem ser usadas: fazer o melhor negócio financeiro possível com a maior segurança higiénica e mantendo os mesmos critérios que o potencial comprador teria com pandemia ou sem pandemia.

Algumas das dicas que vou apresentar neste sentido podem, na minha perspetiva, diminuir riscos e levar o comprador a encontrar a “habitação perfeita” no momento que atravessamos. Cada vez mais, nos tempos modernos a casa é uma passagem, caindo por terra a grande ideia existente no passado de que a casa seria uma habitação para toda uma vida.

É preciso a certeza de que a habitação que se pretende adquirir é a que nos garante melhor qualidade de vida face a nossa idade, profissão, local de trabalho, condição familiar e, obviamente, condição financeira.

DICA 1: Profissional Imobiliário

Por defeito profissional, considero que a primeira coisa a fazer quando se procura casa é encontrarmos um comercial da área que possa ser “o par perfeito” para ajudar na compra. O mesmo se traduz quando necessitamos de um médico, advogado ou outro serviço.  

Procurar um agente imobiliário carece sempre de uma pesquisa por aquele que pode ser o “melhor” consultor da zona. Como avaliar? Números apresentados e algumas pesquisas rápidas nas redes sociais permitem, quase de imediato, que sejam identificados resultados. Outro fator muito importante é perceber a experiência do consultor – num mercado exigente, quem tem mais experiência, por norma, está mais preparado. Dinâmica, estrutura empresarial, velocidade de resposta a questões fazem parte dos indicadores que podem fazer a diferença entre escolher um profissional que vai tentar encontrar o que procura, daquele profissional que apenas procura receber comissões. Escolher um profissional imobiliário porque é familiar ou tem um grau de amizade, normalmente não é uma boa decisão.

A anotar:

– Experiência;

– Estrutura empresarial;

– Organização;

– Dinâmica.

DICA 2: Definição de Prioridades

Para que o consultor imobiliário possa fazer um trabalho profissional, é necessário que o cliente tenha bem definido as suas necessidades. Num momento em que existe tantas restrições de mobilidade, higiénicas, usos de máscara, limitação de espaço, entre outras, não definir necessidade e prioridades é o caminho para o insucesso.

Por esse motivo, e talvez até mais importante do que ter um fantástico consultor imobiliário, é ter certezas: saber e entender o que se quer e definir as prioridades para o momento.

Na maioria das vezes, as principais prioridades e necessidades são:

– Local de trabalho;

– Local da escola dos filhos;

– Proximidade transportes públicos;

– Proximidade a acessos;

– Proximidade com família.

Nesta fase, é ainda mais importante – face a todos os condicionalismos – definir quais destas premissas são, de facto, as mais prioritárias. Isto vai ajudar a uma escolha mais perfeita e evitar andar a visitar imóveis com distâncias entre eles de 30 ou 40 km, nas quais as localizações nada têm de coerente.

DICA 3: Definição de Localização / Preço

Quando a prioridade é ficar próximo do trabalho mas essa proximidade não é financeiramente viável, antes mesmo de começar a ver imóveis – pela localização e necessidade – tem de perceber quais as condições financeiras e analisar a viabilidade de compra. Isto é, quanto posso pagar por um imóvel? Vai ser pronto pagamento ou vai ser financiamento?

Aqui é mais um motivo pelo qual a escolha de um consultor imobiliário é fundamental: caso o consultor imobiliário não tenha uma empresa parceira de intermediação de crédito, será você mesmo a ter de ir aos bancos procurar a melhor solução – onde existem limitações. Um consultor que tem um parceiro na intermediação de crédito, vai dar-lhe mais opções de financiamento, do que o consultor que invariavelmente o deixará sozinho nessa tarefa difícil.

É fundamental saber o orçamento que se tem disponível para a compra porque a procura de um imóvel a um valor muito elevado irá criar falsas expectativas, assim como a procura demasiado barato pode criar desilusões.

DICA 4: Agendamento de Visitas

Com um consultor imobiliário de confiança, necessidades definidas e valor disponível para a compra de um imóvel, chegou a hora do agendamento de visitas.

Neste momento, e agora face à pandemia, que decisões se deve ter em consideração para fazer a escolha perfeita?

Se for apartamento:

– Estado de conservação do prédio;

– Limpeza interior do prédio;

– Estado de conservação do telhado;

– Área do apartamento em função das necessidades.

A parte exterior do prédio – caso não esteja em bom estado de conservação – pode trazer despesas futuras, ou então pode demonstrar desorganização do condomínio. A limpeza interior do mesmo é fundamental, pois um prédio que não está limpo leva à conclusão de que o condomínio funciona mal e pode, claramente, ser o caminho para muitos problemas futuros. O telhado do prédio em mau estado pode representar infiltrações futuras e obras dispendiosas.

A área do apartamento é sempre uma das características mais faladas por quem quer comprar um imóvel, mas quais são as suas necessidades? Há muitas pessoas que pedem quartos grandes. Não consigo definir o que é um quarto grande, pois mais uma vez depende da necessidade, mas a grande questão é quanto tempo passamos num quarto? O que temos para colocar num quarto? O normal será um roupeiro, cama, mesa-de-cabeceira e, eventualmente, um móvel de apoio. A observação mais normal que encontramos no nosso dia-a-dia é: “tenho uma cama King Size” – peço desculpa desiludir mas o convencional e mais usado são os 150cm (largura) por 190cm (comprimento) – qualquer quarto com 9m2 permite ter uma cama com estas dimensões e ter mesas de cabeceira e um pequeno roupeiro. Mais informo que uma cama “king Size” tem 2 metros por 2 metros ou seja mesmo um “king size” apenas ocupa 4 metros quadrados. Esta explicação apenas serve para perceber quais a necessidades, e não colocar em causa os gostos! A casa perfeita é aquele que no momento preenche as suas necessidades.

DICA 5: Visitas

“Quero ver muitos imóveis para poder escolher melhor” – a minha quinta e última dica vai para todas as pessoas que pretendem, nesta fase, visitar muitos imóveis, em muitas localizações, para poderem tomar a melhor decisão.

Não me parece de todo uma decisão correta, pois quanto mais casas forem visitadas, maior probabilidade de haver contato com o famoso vírus Covid-19. Não deve, obviamente, adquirir a primeira casa que for visitar, é uma decisão muito precipitada.

Então quantas casas devem ser visitas? A resposta é: mínimo 3, máximo 5, e porquê? Se as prioridades estão bem definidas, se o consultor imobiliário for profissional e tiver percebido exatamente aquilo que procura, se tiver orçamento máximo definido e se a localização estiver perfeitamente de acordo com as necessidades, não haverá necessidade de visitar mais casas, se isso acontecer é porque, claramente, alguma coisa está a falhar.

Nota: A casa perfeita, na minha opinião, não existe! A casa perfeita é aquela que no momento da nossa vida profissional e pessoal preenche as nossas necessidades, e o que acontece normalmente é que a nossa vida vai mudando ao longo do tempo… Ou porque nascem filhos, ou porque há um divórcio ou porque aparece um vírus que nos muda a forma de ver a vida. As nossas necessidades mudam e aquela que em tempos era a nossa casa perfeita deixa de a ser!

Na vida de consultor imobiliário a frase que mais ouvimos será sempre

“Fui muito feliz nesta casa, mas agora preciso de mudar” … deixou de ser perfeita para aquela família, mas passará a ser perfeita para outra família!